top of page


POEMAS, MÚSICAS E GIFS POÉTICOS
Preto pensando sentado no trono (não do Altíssimo), mas fazendo o que todos têm direito e muitos não o fazem.
Autor: D'Bara Arruda
Reflexões de privada de um retinto
com perguntas laxativas para cérebros obstruídos.
— Perfeito para quem sofre de prisão de bom senso…
É aqui, nesse momento singular, que eu — nobre.
Nobre sim! Até que alguém me prove o contrário:
toda realeza caga…
E pasmem:
não cheira agradável como perfume francês.
O pensamento perverso deles cheira a açoite,
queima de mendigo e propina do desvio da saúde
e da merenda escolar.
O meu?
Hoje tem o odor da indignação de séculos.
É diarreia da revolta e da intolerância à lactose
do leite da vaca profana (Habemus Sanct).
– Existencial, não. É pura desidratação
da minha humanidade e raízes…
Se liga!
Árvore genealógica de preto cresce para baixo da terra
e vira adubo para florir diamantes.
Boletim que a polícia escreve e os políticos
usam pra limpar a bunda dos oligarcas.
Apartheid aqui?
Imagina…
Aqui nós temos favela.
Opa! favela não, comunidade…
Como vomita o Mackenzie, “catedral de raças puras”:
— essa negra, bolsista, lésbica,
‘Cigarro Queimado’ na boca obscura
dos meninos de brasão e pedigree a feder?
Merece, no máximo, um saco plástico mudo…
(Mas ah! Se enriquece, o crime vira glamour —
e a plebe aplaude o upgrade do seu pudor!)
Enquanto a escola sela o caso com verniz,
a imprensa mastiga o escândalo em happy end —
e mais uma Cláudia arrastada, não no asfalto,
pelo camburão da guarda pretoriana da elite brasileira,
mas arrastada no banheiro da hipocrisia que difere as castas,
onde um quilo de merda dessa “gente”
equivale ao suspiro da bolsista negra —
o único orgasmo que a elite aceita dela é o último.
Enquanto isso, a TV edita o luto em close perfeito
— corta para o comercial da cerveja…
Qual deles?
Esse mesmo que desce redondo
e que patrocina o pastor e o caveirão.
Sem redenção — que domingo tem show na praia,
nos calçadões onde se vendem prazeres e horrores.
xiiii…
Segue o baile que a mídia está constipada…
…O ontem e o hoje,
mas o amanhã?
Espelho estilhaçado do mesmo ódio distinto:
— e o que não sai de dentro desse alvo de bala perdida
onde, além de cabelo 'crespo', também carrego
massa cefálica — prato corriqueiro
no self-service da barbárie,
essa delicatesse finesse na gastronomia
da ronda dos famintos capatazes de farda
(“Mira na cabeça!”, já dizia Vossa Eminência ex-governador).
Canibalismo social.
— O Estado puxa o gatilho, a elite assina a ata,
mas o sangue é igual — só muda a etiqueta,
que seca e decompõe igual à tinta de jornal
(ou ao sangue no laudo do legista).
— uggghhh
(fraaapp, vrrrp, toot)
— enquanto o caderno de ocorrências
vira papel higiênico do Estado,
o apartamento com grade elétrica
e entrada exclusiva para empregados
aplaude o último senso do IBGE
enquanto destila essas palavras:
— “Um preto a menos…
…Ufa!”
Epílogo
Para que se abriram as portas da casa-grande?
Sua política de integração é falida,
é cadáver exumado todo 13 de maio.
Ontem, abolição.
Hoje, cotas.
Mas a segregação…
perpetua.
bottom of page