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POEMAS, MÚSICAS E GIFS POÉTICOS
Subversivo e desnecessário (Talvez não)
Autor: D'Bara Arruda
Caríssimo eu:
É sobre o cansaço de ser bom num mundo de vampiros emocionais.
— E se você chupar limões de coerência para pôr acidez na razão,
eles adoçam com elogios e afagos com teor alcoólico de noventa por cento,
para embriagar seu ego.
Por precaução, cuspa o alho podre
das bem-aventuranças bíblicas,
que soam totalmente supérfluas
aos ouvidos da individualidade que peca
e te seduz a acomodar-se no pouco da evolução.
Desculpa, Gil
Como assim, se eu quiser falar com Deus?
Ele que quiser, que fale comigo
E me explique por que me sacrificas na cruz da ingratidão humana
Todos os milésimos de um tempo degradado.
Sim, quero desculpas sim — e indenização por ser um pai ausente.
Me criaste?
Não, me propagaste…
E até que nada conteste,
Até que me prove o contrário, ou ele venha assumir essa paternidade,
Eu sou a cara da minha mãe.
E minha cara não é de fome por conveniência,
Nem tampouco minha cor.
Mas…
Me dou, me dei, e não me deram nada em troca.
Sigo firme, talvez.
Cada vez mais que tento ser o cordeiro indo ao abate,
A ovelha negra,
Latifundiária do “eu” me liberta.
Por que zombas de mim, ó mártir satírico?
Me diz:
Beba da minha bondade
E devore minha benevolência
Até que não sobre uma gota de empatia
Para contar histórias à sua fome egoísta
Nas noites em que choram as estrelas.
Procuro palavras,
Mas elas sagram sobre um pensamento sem luz.
E sobre a mesa de frios, servem a mim o cardápio póstumo do dia:
Reconhecimento temperado com objetividade,
E, para beber, o fel do “muito obrigado”
(entre os dentes, pois se acrescentar um sorriso, é mais caro).
Mas ironia, sarcasmo e falsidade têm aos montes
Em potinhos de serviço sobre a mesa —
E não se preocupe,
Que o garçom “amigo” já acrescenta no seu prato.
Fazer o quê, né?
Tenho que comer como se não houvesse amanhã.
Ou até que o coletivo entenda que viver
à margem da reciprocidade alheia só segrega.
Isso nunca foi questão de escolha,
Te moldaram nesse ser de cálculos e frieza
(“Limitado e calculista
rima abstrata com: desarmado e perigoso”).
Ainda tem gente que diz:
“O amanhã pertence a Deus.”
Esses falsos e conformistas…
Me deito sobre a ideia de que a pergunta que ecoa dentro do filho santificado é:
“O que eu realmente recebo em troca da minha entrega?”
E ele me criou à sua imagem e semelhança…
Agora ele se quiser que fale comigo,
pois me deve muitas explicações
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